Quer dizer: o homem anda aqui a cortar todas as
regalias a que as pessoas tinham direito para pagarem as dívidas e
contribuirem para o país; depois chega-se a saber que o excelentíssimo
anda a dever mais de 5000 € à Segurança Social (SS) porque pensava que não
era obrigatório contribuir para a Segurança Social. Ele está à espera que
as pessoas acreditem e aceitem essa desculpa completamente infantil? Por
essa lógica de ideias, acho que posso ir ali ao shopping, passar numa loja com
roupa gira e levar tudo o que me apetece sem pagar; se um segurança me chatear
por causa disso, eu limito-me a dizer "Oh, amigo, desculpa lá! Eu não
sabia que era obrigatório pagar esta roupa toda." Se o primeiro-ministro
faz o que faz com a segurança social, eu também posso fazer algo
semelhante numa Zara, por exemplo, certo? Se eu tentar esta abordagem,
sinceramente, acho que não funciona. Mas chega de falar mal do homem porque, no
meio disto tudo, a consciência dele - que eu acredito que seja o grilo
que em tempos foi a consciência do Pinóquio e agora é consciência, não de um
menino mentiroso mas de um homem cheio de manhas - falou mais alto: não é
que, apesar de caducada, ele pagou a sua dívida de, aproximadamente, 3000 € à
SS (que, a contar com os juros, ia rondar os 5000 €)? Não me convenceu. Aposto
que se isto não tivesse vindo à tona, os 3000 e tal euros continuavam bem
quietos e sossegados lá na sua continha! E tenho de concordar com o professor
Marcelo Rebelo de Sousa quando pergunta: "Como é que é possível em
Portugal, as pessoas irem para primeiro-ministro e não haver uma investigação
cuidadosa daquilo que pagaram e não pagaram de impostos e de segurança social
anteriormente?”. E, pronto, mais uma trafulhice que fica na nossa história!
Mas eu não li Gomorra (apesar de ir comprar esse
livro assim que puder porque só pode ser realmente fantástico). Li ZeroZeroZero e é com ele que vou acabar
este gigantesco testamento: é "tu cá, tu lá" e não há falinhas
mansas, não há rodeios. As coisas são como são e a realidade do mundo é a
cocaína. Esta é, sem dúvida, um dos grandes motores das economias, da
política e do dia-a-dia de muita gente - gente que enriquece, gente
que morre, gente que apenas consome. É um mundo recheado de crimes
horríveis, mortes e torturas extremamente macabras. O México e a Colômbia
são identificados por Saviano como sendo os grandes polos da cocaína, em termos
de produção, de cartéis, de mortes, de dinheiro e têm ligações a todo o mundo,
desde África, ao Brasil, Itália, Londres e Rússia. Mas nós não conhecemos esse
mundo, enganamo-nos se achamos que sim. É que a cocaína acaba por ser a moeda
única do mundo inteiro. Saviano arrepende-se de saber demasiado sobre mafias,
mas sabe que é escrevendo sobre elas, transmitindo aquilo que sabe a quem
o lê, o poder de fazer a diferença no mundo e de dar a conhecer a realidade
deixam de estar apenas nas suas mãos; passam a estar também nas mãos de quem
leu porque agora já sabe e não esquece. Eu, certamente, não esqueço. Estou aqui
a usar um pouco do poder que ZeroZeroZero me deu e a colocar nas vossas mãos
parte desse mesmo poder!
"Anda a consumir coca quem vai sentado agora ao teu
lado no comboio e que a tomou para acordar de manhã, ou o motorista ao volante
do autocarro que te leva para casa, por querer fazer todas as horas
extraordinárias sem sentir cãibras na cervical. Consome coca quem te é mais
próximo. Se não é o teu pai ou a tua mãe, se não é o teu irmão, então é o teu
filho. Se não é o teu filho, é o teu chefe.”
E assim, falando de trafulhices políticas do nosso Portugal pequenino (do qual também se fala no livro ZeroZeroZero) e de coca, despeço-me de todos vós! Não há ponto como o primeiro; espero que, realmente, tenha sido um bom início e que, de alguma forma, vos tenha cativado e motivado a ler mais pontos meus.
E assim, falando de trafulhices políticas do nosso Portugal pequenino (do qual também se fala no livro ZeroZeroZero) e de coca, despeço-me de todos vós! Não há ponto como o primeiro; espero que, realmente, tenha sido um bom início e que, de alguma forma, vos tenha cativado e motivado a ler mais pontos meus.
O "Poder" é uma palavra que em determinados contexto me assusta ; por exemplo , " a luta pelo poder" ; "quem pode , manda". Mas de facto o "poder do dinheiro" ... é , quase sempre assustador. Felicito todos aqueles que usam o dinheiro para construir ... e não para destruir.
ResponderEliminarO poder exige consciência e humildade. Quem abusa não exerce poder, mas sim violência!
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