segunda-feira, 2 de março de 2015

Não há ponto como o primeiro

Boa noite, pessoal!

Confesso que este será, provavelmente, o post que mais me deu que pensar. Porquê? Apresentar-me foi fácil, mas não chega para vos convencer de que vale a pena ficarem agarrados a um ecrã a ler tudo aquilo que eu escrevo, não é? Quero começar isto da melhor forma possível, quero agarrar-vos logo de início, quero que se interessem por mim e pela minha escrita. Quero tudo isso e muito mais! Andei o dia inteiro cheia de vontade de escrever sobre tudo e mais alguma coisa, sobre coisas com as quais as minhas palavras andam de mão dada e sobre coisas com as quais as minhas palavras não se identificam mas com as quais não deixam de "dar um pé de dança".
Mal acordei (um à parte: acordei às 6h15 da manhã depois de ter passado a noite inteira a sonhar que não estava a conseguir dormir; acreditem: não é nada positivo passar a noite a sonhar que estão às voltas na cama, a olhar constantemente para o relógio e a ver as horas a passar, sem conseguir pregar olho, quando, no dia seguinte, têm de acordar bastante cedo; a parte boa é que acordei completamente descansada e, por isso, percebi que tinha estado mesmo a sonhar, mas adiante!) liguei o computador para ver as notícias e, claro, que me deparo com 1400 (ah, um facto sobre mim: eu digo muitas vezes o número "1400" como sinónimo de muitos/muitas; por isso, daqui em diante, quando eu disser "1400" não me estou a referir mesmo a 1400 coisas; assim, quando me referir, efetivamente, a 1400 coisas, eu aviso) sobre o facto do nosso primeiro-ministro ser mesmo tótó! 

Quer dizer: o homem anda aqui a cortar todas as regalias a que as pessoas tinham direito para pagarem as dívidas e contribuirem para o país; depois chega-se a saber que o excelentíssimo anda a dever mais de 5000 € à Segurança Social (SS) porque pensava que não era obrigatório contribuir para a Segurança Social. Ele está à espera que as pessoas acreditem e aceitem essa desculpa completamente infantil? Por essa lógica de ideias, acho que posso ir ali ao shopping, passar numa loja com roupa gira e levar tudo o que me apetece sem pagar; se um segurança me chatear por causa disso, eu limito-me a dizer "Oh, amigo, desculpa lá! Eu não sabia que era obrigatório pagar esta roupa toda." Se o primeiro-ministro faz o que faz com a segurança social, eu também posso fazer algo semelhante numa Zara, por exemplo, certo? Se eu tentar esta abordagem, sinceramente, acho que não funciona. Mas chega de falar mal do homem porque, no meio disto tudo, a consciência dele - que eu acredito que seja o grilo que em tempos foi a consciência do Pinóquio e agora é consciência, não de um menino mentiroso mas de um homem cheio de manhas - falou mais alto: não é que, apesar de caducada, ele pagou a sua dívida de, aproximadamente, 3000 € à SS (que, a contar com os juros, ia rondar os 5000 €)? Não me convenceu. Aposto que se isto não tivesse vindo à tona, os 3000 e tal euros continuavam bem quietos e sossegados lá na sua continha! E tenho de concordar com o professor Marcelo Rebelo de Sousa quando pergunta: "Como é que é possível em Portugal, as pessoas irem para primeiro-ministro e não haver uma investigação cuidadosa daquilo que pagaram e não pagaram de impostos e de segurança social anteriormente?”. E, pronto, mais uma trafulhice que fica na nossa história!

Achei que tinha de partilhar convosco a minha opinião sobre este assunto. Porém, não é a única coisa que eu tenho a dizer-vos neste primeiro ponto (ou post)! Aliás, como já disse, andei o dia todo a pensar no que ia escrever hoje e nunca mais saiamos daqui se eu fosse escrever tudo aquilo que pensei dizer-vos. Por isso, optei por partilhar só mais uma coisa, neste caso, a minha opinião sobre um livro que me abriu os olhos para um mundo completamente diferente daquele que eu achei conhecer minimamente (nessa parte de conhecer minimamente eu não errei). Que livro é esse? É ZeroZeroZero de Roberto Saviano. Conhecem? Eu não conhecia Saviano até setembro de 2014, quando na cadeira de Jornalismo Literário o professor sugeriu que lêssemos ZeroZeroZero. E que boa sugestão; fiquei rendida à escrita de Saviano. Passo a apresentá-lo: é italiano e tem 35 anos; é jornalista e escreve para alguns periódicos, se bem que aquilo que o lançou no mundo da escrita foi, sem dúvida, o seu bestseller Gomorra, uma história sobre a máfia napolitana Camorra. Se é o seu bestseller é também um motivo de quase-arrependimento: é ameaçado de morte pela máfia e tem de viver com uma escolta policial desde que lançou o livro.

Mas eu não li Gomorra (apesar de ir comprar esse livro assim que puder porque só pode ser realmente fantástico). Li ZeroZeroZero e é com ele que vou acabar este  gigantesco testamento: é "tu cá, tu lá" e não há falinhas mansas, não há rodeios. As coisas são como são e a realidade do mundo é a cocaína. Esta é, sem dúvida, um dos grandes motores das economias, da política e do dia-a-dia de muita gente - gente que enriquece, gente que morre, gente que apenas consome. É um mundo recheado de crimes horríveis, mortes e torturas extremamente macabras. O México e a Colômbia são identificados por Saviano como sendo os grandes polos da cocaína, em termos de produção, de cartéis, de mortes, de dinheiro e têm ligações a todo o mundo, desde África, ao Brasil, Itália, Londres e Rússia. Mas nós não conhecemos esse mundo, enganamo-nos se achamos que sim. É que a cocaína acaba por ser a moeda única do mundo inteiro. Saviano arrepende-se de saber demasiado sobre mafias, mas sabe que é escrevendo sobre elas, transmitindo aquilo que sabe a quem o lê, o poder de fazer a diferença no mundo e de dar a conhecer a realidade deixam de estar apenas nas suas mãos; passam a estar também nas mãos de quem leu porque agora já sabe e não esquece. Eu, certamente, não esqueço. Estou aqui a usar um pouco do poder que ZeroZeroZero me deu e a colocar nas vossas mãos parte desse mesmo poder!


"Anda a consumir coca quem vai sentado agora ao teu lado no comboio e que a tomou para acordar de manhã, ou o motorista ao volante do autocarro que te leva para casa, por querer fazer todas as horas extraordinárias sem sentir cãibras na cervical. Consome coca quem te é mais próximo. Se não é o teu pai ou a tua mãe, se não é o teu irmão, então é o teu filho. Se não é o teu filho, é o teu chefe.”

E assim, falando de trafulhices políticas do nosso Portugal pequenino (do qual também se fala no livro ZeroZeroZero) e de coca, despeço-me de todos vós! Não há ponto como o primeiro; espero que, realmente, tenha sido um bom início e que, de alguma forma, vos tenha cativado e motivado a ler mais pontos meus.  

2 comentários:

  1. O "Poder" é uma palavra que em determinados contexto me assusta ; por exemplo , " a luta pelo poder" ; "quem pode , manda". Mas de facto o "poder do dinheiro" ... é , quase sempre assustador. Felicito todos aqueles que usam o dinheiro para construir ... e não para destruir.

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    1. O poder exige consciência e humildade. Quem abusa não exerce poder, mas sim violência!

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