Boa noite, pessoal!
Confesso que este será, provavelmente, o post que
mais me deu que pensar. Porquê? Apresentar-me foi fácil, mas não chega para vos
convencer de que vale a pena ficarem agarrados a um ecrã a ler
tudo aquilo que eu escrevo, não é? Quero começar isto da melhor forma
possível, quero agarrar-vos logo de início, quero que se interessem por mim e
pela minha escrita. Quero tudo isso e muito mais! Andei o dia inteiro
cheia de vontade de escrever sobre tudo e mais alguma coisa, sobre coisas com
as quais as minhas palavras andam de mão dada e sobre coisas com as quais as
minhas palavras não se identificam mas com as quais não deixam de
"dar um pé de dança".
Mal acordei (um à parte: acordei às 6h15 da manhã depois de
ter passado a noite inteira a sonhar que não estava a conseguir dormir;
acreditem: não é nada positivo passar a noite a sonhar que estão às voltas na
cama, a olhar constantemente para o relógio e a ver as horas a passar, sem
conseguir pregar olho, quando, no dia seguinte, têm de acordar bastante cedo; a
parte boa é que acordei completamente descansada e, por isso, percebi que tinha
estado mesmo a sonhar, mas adiante!) liguei o computador para ver as
notícias e, claro, que me deparo com 1400 (ah, um facto sobre mim: eu digo
muitas vezes o número "1400" como sinónimo de muitos/muitas; por
isso, daqui em diante, quando eu disser "1400" não me estou a
referir mesmo a 1400 coisas; assim, quando me referir,
efetivamente, a 1400 coisas, eu aviso) sobre o facto do nosso
primeiro-ministro ser mesmo tótó!
Quer dizer: o homem anda aqui a cortar todas as
regalias a que as pessoas tinham direito para pagarem as dívidas e
contribuirem para o país; depois chega-se a saber que o excelentíssimo
anda a dever mais de 5000 € à Segurança Social (SS) porque pensava que não
era obrigatório contribuir para a Segurança Social. Ele está à espera que
as pessoas acreditem e aceitem essa desculpa completamente infantil? Por
essa lógica de ideias, acho que posso ir ali ao shopping, passar numa loja com
roupa gira e levar tudo o que me apetece sem pagar; se um segurança me chatear
por causa disso, eu limito-me a dizer "Oh, amigo, desculpa lá! Eu não
sabia que era obrigatório pagar esta roupa toda." Se o primeiro-ministro
faz o que faz com a segurança social, eu também posso fazer algo
semelhante numa Zara, por exemplo, certo? Se eu tentar esta abordagem,
sinceramente, acho que não funciona. Mas chega de falar mal do homem porque, no
meio disto tudo, a consciência dele - que eu acredito que seja o grilo
que em tempos foi a consciência do Pinóquio e agora é consciência, não de um
menino mentiroso mas de um homem cheio de manhas - falou mais alto: não é
que, apesar de caducada, ele pagou a sua dívida de, aproximadamente, 3000 € à
SS (que, a contar com os juros, ia rondar os 5000 €)? Não me convenceu. Aposto
que se isto não tivesse vindo à tona, os 3000 e tal euros continuavam bem
quietos e sossegados lá na sua continha! E tenho de concordar com o professor
Marcelo Rebelo de Sousa quando pergunta: "Como é que é possível em
Portugal, as pessoas irem para primeiro-ministro e não haver uma investigação
cuidadosa daquilo que pagaram e não pagaram de impostos e de segurança social
anteriormente?”. E, pronto, mais uma trafulhice que fica na nossa história!
Achei que tinha de partilhar convosco a minha opinião sobre
este assunto. Porém, não é a única coisa que eu tenho a dizer-vos neste
primeiro ponto (ou post)!
Aliás, como já disse, andei o dia todo a pensar no que ia escrever hoje e nunca
mais saiamos daqui se eu fosse escrever tudo aquilo que pensei dizer-vos.
Por isso, optei por partilhar só mais uma coisa, neste caso, a minha opinião
sobre um livro que me abriu os olhos para um mundo completamente diferente
daquele que eu achei conhecer minimamente (nessa parte de conhecer minimamente
eu não errei). Que livro é esse? É ZeroZeroZero de Roberto Saviano. Conhecem?
Eu não conhecia Saviano até setembro de 2014, quando na cadeira de Jornalismo
Literário o professor sugeriu que lêssemos ZeroZeroZero. E que boa sugestão; fiquei
rendida à escrita de Saviano. Passo a apresentá-lo: é italiano e tem 35 anos; é
jornalista e escreve para alguns periódicos, se bem que aquilo que o lançou no
mundo da escrita foi, sem dúvida, o seu bestseller
Gomorra, uma história sobre a máfia napolitana Camorra.
Se é o seu bestseller é também um motivo de
quase-arrependimento: é ameaçado de morte pela máfia e tem de viver com
uma escolta policial desde que lançou o livro.
Mas eu não li Gomorra (apesar de ir comprar esse
livro assim que puder porque só pode ser realmente fantástico). Li ZeroZeroZero e é com ele que vou acabar
este gigantesco testamento: é "tu cá, tu lá" e não há falinhas
mansas, não há rodeios. As coisas são como são e a realidade do mundo é a
cocaína. Esta é, sem dúvida, um dos grandes motores das economias, da
política e do dia-a-dia de muita gente - gente que enriquece, gente
que morre, gente que apenas consome. É um mundo recheado de crimes
horríveis, mortes e torturas extremamente macabras. O México e a Colômbia
são identificados por Saviano como sendo os grandes polos da cocaína, em termos
de produção, de cartéis, de mortes, de dinheiro e têm ligações a todo o mundo,
desde África, ao Brasil, Itália, Londres e Rússia. Mas nós não conhecemos esse
mundo, enganamo-nos se achamos que sim. É que a cocaína acaba por ser a moeda
única do mundo inteiro. Saviano arrepende-se de saber demasiado sobre mafias,
mas sabe que é escrevendo sobre elas, transmitindo aquilo que sabe a quem
o lê, o poder de fazer a diferença no mundo e de dar a conhecer a realidade
deixam de estar apenas nas suas mãos; passam a estar também nas mãos de quem
leu porque agora já sabe e não esquece. Eu, certamente, não esqueço. Estou aqui
a usar um pouco do poder que ZeroZeroZero me deu e a colocar nas vossas mãos
parte desse mesmo poder!
"Anda a consumir coca quem vai sentado agora ao teu
lado no comboio e que a tomou para acordar de manhã, ou o motorista ao volante
do autocarro que te leva para casa, por querer fazer todas as horas
extraordinárias sem sentir cãibras na cervical. Consome coca quem te é mais
próximo. Se não é o teu pai ou a tua mãe, se não é o teu irmão, então é o teu
filho. Se não é o teu filho, é o teu chefe.”
E assim, falando de trafulhices políticas do nosso Portugal pequenino (do qual
também se fala no livro ZeroZeroZero)
e de coca, despeço-me de todos vós! Não há ponto como o primeiro; espero que,
realmente, tenha sido um bom início e que, de alguma forma, vos tenha
cativado e motivado a ler mais pontos meus.